Hoje
acordei em ares do céu de maio do final dos anos 80. Tudo estava muito calmo, e
mesmo em um outono quente e de poucas colheitas, senti a leve brisa soprar o
meu rosto, e aquela sensação me levou de volta aos invernos frios de minha
ingênua infância.
O
murmúrio do vento trazia consigo a voz do meu pai a aboiar o gado, e as folhas
secas a se movimentarem pelo chão fazia-me lembrar de minha mãe varrendo a
varanda. Os cânticos agonizantes dos pardais refrescava-me a memória a lembrança
de uma maritaca que a vovó criava.
O
sol começou a apontar timidamente no horizonte, e trazia e sua pureza o brilho
radiante de uma saudade renovada que refletia uma esperança em meus olhos. Ao
sair na varanda me apoiei na galha da mangueira, e foi quando eu me encontrei de
volta ao passado no terreiro da fazenda; fechei os olhos, e no filme de minha
memória encontrei os bezerros a escabriolar pela malhada; o meu tio, juntamente
com o meu pai chegavam molhados do orvalho da madrugada montados em seus
cavalos. Pai tocava a pareia de boi qual logo mais tarde, depois de encangados,
puxaria o carro com a lenha da fornalha.
Os
uivos dos coções do carro cantando, eram como música para a minha mente antes
despreocupada, e como se ainda fosse ontem abrir os meus olhos enquanto aquele
belo filme ainda passava na tela de minha mente.
Voltei
para dentro de mim, e foi quando conseguir saborear o doce da garapa que
escorria da moenda que lentamente moía aquela cana caiana, puxadas pelos bois
Carboreto e Carbonato. A santa paciência do tio Nando ao partir um limão para
misturar na garapa causava-me náuseas. E me consolava ao ouvir Marino cantar uma
chula enquanto lavava os tachos, e nesse instante meu pai acendia o fogo da
fornalha. Nessa altura já era em torno das 10 da manhã e toda a criançada já se
fazia presente, circulando em torno do engenho e meu tio avó Manoel bradava
desaprovando aquela ação.
A
garapa que antes escorreu pela moenda, desceu pela bica e chegou ao túnel, já borbulhava
fervilhante e Marino agora retirava a sua espuma. Nisso meu pai batia aquela
massa pastosa que antes fora melaço e já se transformava na saborosa rapadura
quente. Nós em torno da gamela com as tabuletas na mão só queria provar da
primeira taxada; e Moura lá no bagaceiro, raspava uma cana para fazer uma puxa,
enquanto lá dentro Tim Tim se entusiasmava ao falar da mulherada...
...
Nesse momento o sol dividia o céu, era meio-dia, e juntamente com Raquel minha
mãe chegava com a comida da rapaziada. Pai como sempre solícito, pedia para que
tio Nando parasse o engenho e pusesse os bois para descansar, enquanto de dois
em dois todos almoçavam. E a essa hora do dia a pequena casa do engenho que era
coberta de palha, encontrava-se aquecida com o calor da fornalha e completamente
lotada, pois, parte da população do povoado ali se fazia presente ao saborearem
aquele doce dos mais naturais.
E
quando eu me encontrava no pico do meu sonho acordado, ouvi o zumbido de uma
abelha e aquilo me pareceu ainda bem mais real: cheguei a concluir que ela teria
ido ali buscar um pouco da cera da cana para fazer a sua própolis. E desarmando-me
da minha realidade passada, meu colega me questionava sobre uma situação do
mundo atual, ai foi quando a ficha caiu. Percebi que eu estava vivendo apenas
um retrato da realidade de outrora, que muito bem conservado estava em minha
mente guardada.
Josemário o poeta Caipira
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