segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Essa mistura de água e óleo


De tanta sede a minha garganta ressecou e a minha alma se agoniza. Já não tenho mais vontades nem desejos, cumpro apenas o que é padrão da rotina, se faço ou se crio algo é por questões de sobrevivência. O meu cérebro foi esmagado e a minha consciência já não é tão consciente assim. Um ser já não tão humano, um trapo de gente que ostenta um pedaço de vida...

Dono apenas dos meus desejos hipócritas, sabendo que a verdade deles é irreal; não poderei nunca fazer com que o mundo seja do meu jeito, nem tampouco adiantará fazer minha parte, já que tudo que fizer será insuficiente. Mas a estupidez da minha consciência faz com que às vezes eu ainda pense em uma radicalização do sistema...

E no giro frontal inferior, proferi alguns predicados de desespero, contudo, conseguir enxergar no surreal uma visão mais objetiva da vida. Misturei o óleo na água, e pude ver nas silhuetas das ondas formadas por aquela mistura, grandes revelações: quantas cores, quantas imagens, quantas mensagens poderíamos tirar da mistura daqueles dois elementos?
Percebi que o que nos prolonga a vida nem sempre é o perfeito, às vezes é necessário que uma grande árvore morra para dar vida aos microrganismos e esses reporem as substâncias húmicas que o solo tem. Tudo é uma questão de lógica, e basta esperar para que aconteça no processo natural. Mais como nem tudo é lógico assim, o homem é tão egoísta que prefere se alimentar do próprio sangue, morder a língua e se sufocar no seu letal veneno.

E nessa mistura de água e óleo que havia me banhado, resolvi me enxugar no lençol da praia, e quando a estrela central bateu sobre meu corpo cristalizado, reluziu-se uma verdadeira obra de arte. “A arte de viver”...

                                                                                                                          Josemário de Carvalho

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado por participar!!